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Entre a impossibilidade e a possibilidade da neutralidade, um recurso para o mediador.

  Por Eliara P. Ramos

 

De que forma a ferramenta, construída por Araújo e Morgado para Terapia Familiar, pode contribuir para auxiliar o mediador a “cuidar” de sua neutralidade?

Desde 2003, quando iniciei minha formação em Mediação, a ideia de um terceiro neutro que não julga, não opina, não decide, não aconselha, me provocaram grandes turbulências. Em minha profissão de origem (psicoterapeuta) esta postura era natural e indiscutível, ser imparcial e ter distância dos clientes. Entretanto, a expressão “um terceiro neutro”, me causava certo incomodo que se transformaram em questionamentos, controvérsias, discussões e, a mesma pergunta persistiu anos: o mediador consegue ser neutro ou não?

Como ser neutro numa conversa, onde o que eu sinto e o que eu penso, faz parte de mim e é impossível ficar com a mente totalmente vazia para escutar! Ser neutro na Mediação é não pensar? É não sentir o que escutamos?

A ferramenta de escuta, “ENLACE PRAGMÁTICO”, desenvolvida por Neyde Araújo Bittencourt e Naira Morgado, para a clínica psicoterapêutica, a partir da articulação de conceitos do Pragmatismo Lingüístico, da Análise do Discurso e do Construcionismo Social, responderam as minhas indagações e tem sido muito útil em meu trabalho como mediadora e como supervisora.

A Mediação e a Terapia têm em comum os contextos que atuam. São contextos conversacionais onde a relação se constrói no momento do encontro. Na Mediação é construído na relação entre mediador e mediados.

O que possibilita que a neutralidade seja aplicada ou não, é o conhecimento que o mediador tem dos próprios sentimentos, pensamentos, emoções, medos e pré-conceitos diante do discurso dos mediados. Temas como violência, sexualidade ou outros podem ser paralisantes impedindo que o mediador continue neutro no procedimento. Portanto, um dos caminhos é nomear os efeitos produzidos pela conversa no procedimento de Mediação, transformando esses efeitos em recursos. Dessa forma o profissional poderá administrar sua neutralidade nos atendimentos, atingindo assim um dos mais importantes princípios da Mediação.

Eliara P. Ramos